Representantes de quatro startups apoiadas pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) participaram na semana passada da FAPESP Week China. Organizado em parceria com o China-Lac Technology Transfer Center (CLTTC), o evento ocorreu nas cidades de Dongguan e de Shenzhen, um dos principais centros de inovação do Oriente.
Além de apresentações acadêmicas, a programação incluiu visitas a laboratórios de pesquisa, universidades e também a grandes empresas chinesas, como BYD (fabricante de veículos elétricos), Huawei (multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações) e BGI (fornecedora de equipamentos e serviços de sequenciamento genômico e, atualmente, a maior organização de pesquisa na área). Cerca de 150 empresas chinesas se inscreveram para assistir às apresentações, que ocorreram nos dias 28 e 29 de junho.
Entre os integrantes da delegação brasileira esteve Rodrigo Junqueira, vice-presidente de Programas e Negócios Internacionais da Ocellott, empresa que atua na área de eletrificação aeronáutica. “Nós desenvolvemos baterias aeronáuticas, sistemas eletroeletrônicos e sistemas de proteção contra descargas atmosféricas para aeronaves. Nosso foco é o desenvolvimento ágil e seguro de sistemas aeronáuticos com zero emissão de carbono”, conta o empresário à Agência FAPESP.
A startup sediada em São José dos Campos, interior de São Paulo, foi uma das selecionadas em uma chamada de propostas lançada pela FAPESP em abril. Um dos critérios do edital era a empresa demonstrar ter uma estratégia estabelecida de internacionalização.
Junqueira explica que o segmento aeronáutico no Brasil ainda é pequeno e oferece poucas oportunidades de crescimento. Por esse motivo, há cerca de três anos, a Ocellott começou a explorar novos mercados com a abertura de um escritório de negócios em Daytona Beach, nos Estados Unidos.
“A oportunidade de vir para a FAPESP Week China caiu como uma luva, pois casou com nosso esforço de internacionalização. Além das visitas incluídas na programação do evento, tivemos uma série de encontros agendados com potenciais fornecedores de placas eletrônicas e outros componentes para nossos sistemas. E também visitamos potenciais clientes, como a EHang”, diz referindo-se à empresa chinesa que desenvolve e fabrica veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL, na sigla em inglês) para transporte de passageiros.
Outra startup selecionada no edital foi a Onkos, que está sediada em Ribeirão Preto e se dedica a desenvolver exames diagnósticos moleculares. Com apoio do PIPE (projetos 15/07590-3, 17/16417-9 e 19/16443-5), a empresa criou uma tecnologia para analisar tumores de tireoide que pode ajudar a reduzir o n úmero de cirurgias desnecessárias no Sistema Único de Saúde (SUS) (leia mais em: agencia.fapesp.br/42129).
“A gente tem o projeto de trabalhar com pesquisadores ou mesmo empresas de outros países. Esta viagem nos possibilitou, em primeiro lugar, entender melhor como funciona a China, que é um mercado fechado. Durante a visita à BGI tivemos a oportunidade de explorar possíveis parcerias. Conversei com o cientista-chefe de pesquisa e ele me contou que a BGI mantém colaborações com startups. Foi bem proveitoso”, comenta Marcos Tadeu dos Santos, fundador e CEO da Onkos.
Para Ronaldo José Durigan Dalio, um dos fundadores da Ideelab Biotecnologia, de Piracicaba, um dos principais propósitos da viagem foi entender como funciona a agricultura chinesa. “Queremos descobrir qual é o nível de desenvolvimento, fazer comparações com o que acontece no Brasil e mapear oportunidades – seja de trazer uma tecnologia nossa para cá ou de levar uma tecnologia chinesa para o Brasil. O objetivo é melhorar a agricultura como um todo”, diz.
Dalio afirma que esteve particularmente interessado no workshop sobre agricultura de precisão que aconteceu no dia 29 de junho, em Shenzhen (leia mais em: agencia.fapesp.br/52056).
A área agrícola também é o foco de Fernando Nicodemos, da NCB – Sistemas Embarcados, de São José dos Campos. A empresa desenvolve equipamentos para liberação, por meio de drones, de insumos biológicos voltados ao controle de pragas, bem como softwares que monitoram esse processo e coletam dados digitalizados em tempo real. “Usamos um drone que cobre 50 hectares por hora, com precisão”, conta o empresário.
Tendência
Segundo Ana Paula Yokosawa, gerente-adjunta de colaboração em pesquisa da FAPESP, um dos focos principais do evento na China é discutir o financiamento de pesquisa acadêmica dentro de empresas. “Daí surgiu a ideia de chamar os PIPEs para participar dessa conversa. Como em São Paulo podemos fazer para a pesquisa em empresas ser tão competitiva quanto é na academia?”, indaga.
O local não poderia ser mais adequado para essa discussão. Com aproximadamente 13 milhões de habitantes, a cidade de Shenzhen, no sul da China, é sede de gigantes de tecnologia como Tencent, dona do WeChat, e ficou conhecida como “a fábrica do mundo”. Em apenas 40 anos passou de uma pequena vila de pescadores a metrópole graças à criação, pelo governo chinês, na década de 1980, da Zona Econômica Especial, que ofereceu às empresas benefícios fiscais, de infraestrutura e para contratação de mão de obra qualificada. Atualmente, Shenzhen é a principal expoente da chamada “Área da Grande Baía” – uma megalópole formada por nove cidades (Shenzhen, Guangzhou, Zhuhai, Foshan, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen, Huizhou e Zhaoqing) e duas regiões administrativas especiais (Hong Kong e Macau). A região também é conhecida como o “Vale do Silício chinês”.
A participação de empresas inovativas na FAPESP Week é uma tendência que veio para ficar, informa Patricia Tedeschi, gerente de Inovação da Fundação. “O edital lançado em abril faz parte de um programa voltado a promover a internacionalização de startups apoiadas pelo PIPE, um esforço que a FAPESP tem feito para oferecer novas oportunidades. A ideia é que o mesmo ocorra nas próximas edições do evento, previstas para ocorrer na Espanha, na Itália e na Alemanha”, adianta.
Mais informações sobre a FAPESP Week China em: fapesp.br/week/2024/china.
As informações são da Fapesp.