A Integração do Exército Brasileiro com a Indústria de Defesa Nacional
A importância da colaboração do Exército Brasileiro para garantir a autonomia tecnológica da indústria de defesa nacional e fortalecer a segurança do País
Em entrevista, o comandante do Exército Brasileiro (EB), General Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, revela como a cooperação com a Base Industrial de Defesa (BID) está impulsionando a modernização das capacidades terrestres da Força, destacando projetos estratégicos, inovações tecnológicas e o impacto positivo para a soberania nacional.
Como o Exército Brasileiro está fortalecendo sua capacidade de defesa terrestre por meio da cooperação com a indústria de defesa nacional?
General Tomás – O Exército Brasileiro tem fortalecido sua capacidade de defesa terrestre por meio de uma estreita cooperação com a indústria de defesa nacional, adotando iniciativas que buscam a autonomia tecnológica e o fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID). Essa cooperação materializa-se por meio da modernização de sistemas de armas, veículos e sistemas de comando e controle, pesquisa e desenvolvimento de Sistemas e Materiais de Emprego Militar (SMEM), além de contratos de aquisição significativos, com prioridade para a produção nacional.
O Escritório de Projetos do Exército (EPEx) é o ponto focal que tem a responsabilidade de implementar aquisições dentro do Portfólio Estratégico do Exército, orientado pelos seus Programas Estratégicos. Assim, tais programas ajudam a impulsionar a Base Industrial de Defesa (BID), possibilitando o desenvolvimento de novas tecnologias, gerando empregos, capacitando mão de obra especializada e aprimorando a capacidade de produção da indústria de defesa nacional.
Quais projetos de modernização e desenvolvimento de equipamentos em parceria com empresas brasileiras estão sendo priorizados pelo Exército?
General Tomás – O Exército possui diversos projetos desenvolvidos em parceria com a BID nacional, inseridos nos Programas Estratégicos da Força, os quais possuem em seu escopo entregas como, por exemplo: radares terrestres e de defesa antiaérea, viaturas blindadas, embarcações blindadas e logísticas, Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas, Mísseis Superfície-Superfície 1.2 Anticarro, equipamentos rádio, equipamentos voltados para a defesa cibernética, Viaturas Blindadas sobre Rodas (VBR) Cascavel NG, materiais de comunicações, comando e controle e optrônicos, dentre outros. Esses projetos refletem a complexidade das necessidades do Exército, abarcando desde a modernização de veículos até a integração de novas tecnologias. Essas parcerias combinam competências e aceleram o desenvolvimento de tecnologias críticas e disruptivas, permitindo respostas rápidas às novas ameaças.
De que maneira a colaboração com a indústria de defesa brasileira está contribuindo para o treinamento e a capacitação das tropas do Exército?
General Tomás – A colaboração com a indústria de defesa nacional tem sido crucial para o desenvolvimento de soluções para o adestramento e a capacitação da nossa tropa em diversas áreas, que economizam recursos e preservam a qualidade do treinamento. Os simuladores são um bom exemplo dessa parceria, que se traduz em colaboração mútua. Desenvolvidos em parceria com a Base Industrial de Defesa, os simuladores, bem como recentes projetos em curso de realidade virtual e aumentada, garantem a capacitação eficiente das tropas, além de contribuir para o desenvolvimento de projetos inovadores.
A indústria de defesa nacional também tem contribuído para a formação de pessoal técnico do Exército na operação, na manutenção e reparo de novos equipamentos. A formação inclui desde o diagnóstico de problemas até a execução de reparos complexos, assegurando que os equipamentos estejam sempre em condições de uso. Isso contribui significativamente para a utilização dos SMEM em sua plena capacidade operacional, além de prolongar a vida útil desses sistemas por meio de uma adequada gestão de manutenção.
Quais são as expectativas do Exército Brasileiro com relação às parcerias e futuras cooperações com a indústria de defesa nacional, especialmente em termos de desenvolvimento tecnológico e estratégico?
General Tomás – O Exército espera que futuras parcerias com a indústria de defesa nacional possam ser ampliadas para o desenvolvimento de novas capacidades, como defesa antiaérea, inteligência artificial, computação e criptografia quânticas, drones para operações militares, defesa cibernética e sistemas de comando e controle. A instituição busca acelerar a inovação tecnológica por intermédio de uma colaboração mais estreita com a indústria e a academia, promovendo o modelo da Tripla Hélice. Um aspecto importante a ser considerado nessas parcerias e cooperações é a obtenção de resultados e benefícios para ambas as partes, incluindo o desenvolvimento de novas tecnologias e a sua transferência e a capacitação de recursos humanos. A meta é alcançar autonomia tecnológica, desenvolver tecnologias disruptivas, reduzir a dependência externa e fortalecer a posição do Brasil no cenário global de defesa, com a BID desempenhando um papel fundamental na transformação da Força Terrestre até 2040.
Como o Exército Brasileiro acompanha e incorpora novas tecnologias, como inteligência artificial e segurança cibernética, e qual impacto dessas inovações em suas operações?
General Tomás – Tendo em vista a importância e os desafios do tema, o EB acompanha e incorpora de diversas formas essas novas tecnologias, como por exemplo: participação em intercâmbios, projetos específicos e acordos de cooperação com instituições de pesquisa, como a FINEP e realização de pesquisas por alunos das escolas militares. No contexto do Portfólio Estratégico do Exército, temos 2 (dois) Programas dedicados à Defesa Cibernética, sendo eles o Programa de Defesa Cibernética na Defesa Nacional (PDCDN) e o Programa Defesa Cibernética do Exército, cada um com seus Projetos Integrantes, cujos escopos complementares preveem entregas na área de segurança cibernética, incluindo projetos de cibersegurança.
Essas inovações melhoram a resiliência contra ataques cibernéticos e proporcionam superioridade informacional. A Diretriz Estratégica de Inteligência Artificial visa a dotar a Força de sistemas avançados, enquanto o Instituto Militar de Engenharia (IME) lidera projetos em computação quântica, fortalecendo a capacidade de defesa cibernética.
Como o senhor avalia as contribuições da 8ª Mostra BID Brasil para desenvolvimento de todo o ecossistema da defesa?
General Tomás – De forma muito positiva. A 8ª Mostra BID Brasil é fundamental para o ecossistema de Defesa, promovendo a interação entre a indústria, o governo e a academia. O evento facilita a construção de novas parcerias, estimula a pesquisa e o desenvolvimento, apresenta inovações tecnológicas de uso dual e fortalece a Base Industrial de Defesa. Além disso, aumenta a visibilidade internacional da indústria brasileira, promovendo exportações e contribuindo para a soberania e segurança nacional. A mostra desempenha também um papel importante na promoção da defesa nacional, aumentando a conscientização sobre a importância de um setor de defesa forte e autossuficiente para a soberania e segurança do país. Dessa forma, o evento serve como um espaço para discutir o futuro da Defesa no Brasil, ajudando a moldar as políticas públicas e as estratégias de desenvolvimento do setor nas próximas décadas.
Por fim, é importante ressaltar que a Mostra BID Brasil já está consolidada como um evento significativo da área de defesa, contribuindo para a difusão de soluções inovadoras que vão permitir o desenvolvimento de novas e significativas entregas à sociedade brasileira.