Exercício simulado teve até Conselho de Segurança, no qual profissionais brasileiros e estrangeiros gerenciaram cenários complexos
Questões ambientais quase sem solução, além de conflitos internacionais em caráter de emergência. Somado a isso, um crescente cenário de tensão, onde opinião pública, jornalistas e Organizações Não Governamentais (ONGs) pressionam para que decisões sejam tomadas quanto antes. Esse tipo de situação é cada vez mais presente nas televisões e redes sociais por todo o mundo, especialmente em áreas de conflito, disputa ou risco iminente. Mas ainda que o Brasil seja um País intrinsecamente pacífico, o nível de prontidão de seus militares – em especial tomadores de decisão – precisa estar apurado.
Como parte do Curso de Altos Estudos em Defesa (CAED) da Escola Superior de Defesa (ESD) de Brasília (DF), Oficiais da Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira, bem como outros agentes do Poder Público e universidades, participaram do Exercício de Crise Internacional (ECI 2024), com objetivo de preparar profissionais brasileiros e estrangeiros para gerenciarem uma hipotética crise associada a diversos conceitos estudados ao longo do Curso. As atividades ocorreram nos dias 6, 7, 8 e 13 de agosto.
Segundo o Coordenador-Geral do Exercício, Capitão de Mar e Guerra (da Reserva) Carlos Radicchi, o ECI 2024 é a consolidação das disciplinas iniciais do CAED: Segurança, Desenvolvimento e Defesa (SDD); Estado e Defesa em Perspectiva Histórica (EDH); Estudos Estratégicos (ESTR); Geopolítica (GEO); Relações Internacionais (RI); e Estudos Aplicados à Análise de Crises (ECI). “É uma forma de os alunos buscarem uma solução pacífica, dentro do Conselho de Segurança, para uma crise internacional, envolvendo dez países fictícios”, completou.
O CAED congrega civis de instituições convidadas, públicas ou privadas, dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, além de militares das três Forças, das Forças Auxiliares e de nações amigas. Neste ano, o Exercício contou, ainda, com a participação de alunos dos cursos de Relações Internacionais e de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília (UCB). “Muitos desses alunos poderão aplicar esses conhecimentos em futuros casos reais de conflitos”, explicou o Coordenador-Geral do Exercício.
Crise ambiental
Em um momento específico do Exercício, o Capitão de Mar e Guerra James Acâmpora Bessa ocupou a função de porta-voz de um país fictício denominado Vera Cruz que, durante uma crise internacional, sofria ataques por parte da comunidade, imprensa e ONGs de todo o mundo. A região em disputa, uma extensa floresta tropical denominada Aglaia, era vista como patrimônio de toda a humanidade, e não somente do país em questão.
“Nesse momento, a Organização dos Países Unidos acusou Vera Cruz de não manter a preservação ambiental daquela importante região. E minha missão era defender que a soberania de um país é inegociável e inquestionável, que não se coloca isso em mesa de discussão. Além disso, deveríamos levar em consideração, naquela hora, que a região não pertencia somente ao país Vera Cruz, mas também a outros países fronteiriços. Ou seja, uma situação que poderia, sim, acontecer”, destacou o Capitão de Mar e Guerra Bessa.
Ministro das Relações Exteriores do país fictício Vera Cruz, na simulação, o Capitão de Mar e Guerra Márcio Borges Ferreira conta que o Exercício foi importante para a observação dos aspectos envolvidos em tratativas internacionais relacionados à soberania dos Estados. “Nesse caso, a temática foi muito interessante, porque tratou da questão ambiental, que é atual, e a possibilidade de uma crise com foco na proteção do meio ambiente ser fonte de um possível conflito no futuro. Ou seja, trouxe à luz que questões ambientais podem suscitar o interesse de outros Estados e, assim, ameaçar a soberania de países que detêm biomas de grandes extensões, contendo recursos importantes”, concluiu o Capitão de Mar e Guerra Márcio Borges.
O Coronel Moisés Felipe Gervazoni Viana, do Exército Brasileiro, representou como Chefe de Estado de Vera Cruz, e afirma que a experiência foi enriquecedora. “Na medida em que tínhamos que defender o que é mais valioso para nós, que são a soberania e a integridade territorial. Utilizamos a estratégia da aliança através de diplomacia para tentar defender nossos interesses. Ou seja, foi um ‘exercício de xadrez’ bem diferenciado, uma grande oportunidade, onde preparamos uma estratégia levando em consideração os objetivos nacionais e possíveis óbices”, completou o Coronel Gervazoni.
De acordo com o Prof. Dr. Fabio Albergaria de Queiroz, um dos responsáveis pela Concepção Intelectual do ECI, o exercício é uma marca da ESD. “Colocamos um cenário fictício de alta complexidade, onde civis e militares foram organizados em países, organizações não governamentais e mídias. Durante esse processo, eles tiveram que resolver problemas de forma colegiada, participando de reuniões bilaterais e multilaterais e construindo alianças”, destacou.
Para a Tenente-Coronel Selma Lúcia de Moura, Professora Doutora da ESD e uma das coordenadoras do Exercício, o ECI é importante porque se aproxima fielmente da realidade, trazendo aos alunos a prática de todas as teorias estudadas no CAED. “Esse é um grande momento do Curso que coroa as disciplinas aprendidas na sala de aula”, sublinhou.
A cerimônia de encerramento contou com a presença da Comandante e Reitora da ESD, Major-Brigadeiro (Médica) Carla Lyrio Martins, que avaliou o exercício como sendo cuidadosamente elaborado para proporcionar um ambiente fictício e dinâmico, por meio do qual participantes tiveram a oportunidade de praticar e desenvolver habilidades essenciais para a resolução de conflitos e para a tomada de decisões estratégicas em situações de alta pressão.
As informações são da Agência Marinha de Notícias.