Palestrantes abordaram perspectivas para a base industrial de defesa
Abrindo as apresentações do segundo dia da InovaBIDS, evento realizado nos dias 28 e 29 de setembro, no SENAI CIMATEC, em Salvador, foi realizada a mesa temática “Fontes de fomento à Inovação: Inovação Incremental Propriamente Dita e Disruptiva”. A primeira edição da InovaBIDS é um evento promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), em parceria com o SENAI CIMATEC, com apoio da FINEP.
Participaram desta mesa redonda a especialista em indústria de defesa pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Larissa de Freitas Querino; o professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antônio Henrique Lucena Silva; e o gerente do Departamento Operacional da FINEP, em São Paulo, José Henrique da Silva Pereira.
A primeira apresentação foi do professor Henrique, membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, com experiência em Ciência Política, com ênfase em políticas internacionais e estudos estratégicos, com atuação nos seguintes temas: indústria de defesa, Índia, China, Rússia, Brasil e Relações militares e internacionais.
Inicialmente, o professor abordou o tema perspectivas analíticas da indústria de defesa, separando em campos do conhecimento, que chamou de vertente estruturalista, vertente econômica, vertente dominância e vertente sistêmica. O palestrante usou extensa lista de exemplos bibliográficos para elaborar uma análise do mercado e da produção militar, assim como as oportunidades econômicas dos custos das políticas de industrialização das Forças Armadas.
Sobre a inovação incremental conceituou como o aprimoramento das tecnologias existentes com o objetivo de torná-las mais eficientes, confiáveis e eficazes, em ciclos de desenvolvimento contínuo. Isto significa que são necessárias atualizações regulares em equipamentos e sistemas para seja mantida a superioridade tecnológica.
Quanto à inovação disruptiva, disse que são tecnologias totalmente novas como, por exemplo, avanços em inteligência artificial, automação, tecnologia espacial, nanotecnologia e armas hipersônicas. E que, este tipo de inovação exige mudanças de paradigma, fundamentais na maneira como as operações militares são conduzidas.
Por fim, o professor Henrique fez uma abordagem da indústria global de defesa, analisando a performance de alguns países no contexto mundial. Entre eles, China, a Rússia, Coreia do Sul, Turquia, Japão, além de avaliar o impacto da guerra da Ucrânia na indústria.
Financiadora de Estudos e Projetos
Na sequência, foi ministrada a palestra “FINEP e a base industrial de defesa apoio ao desenvolvimento nacional”, por José Henrique da Silva Pereira. O profissional descreveu o papel da Financiadora de promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil por meio do fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.
José Henrique falou sobre as fontes de recursos utilizadas pela FINEP e as formas de apoio aos elos da cadeia de Ciência, Tecnologia e Inovação e explicou que a Financiadora possui instrumentos para todos os portes de empresas e fases de ciclo de inovação.
Este financiamento, afirmou, pode ser destinado à aquisição de máquinas e equipamentos nacionais e importados, matérias primas, obras civis e instalações, softwares, serviços de terceiros, logística, distribuição e marketing, entre outros.
José Henrique detalhou, ainda, como funciona o processo e submissão de uma proposta, que pode ser feita on-line, além das condições de financiamento, e a rede de agentes financeiros estabelecida no Brasil. Ao final, falou sobre os projetos estratégicos de defesa, com histórico dos últimos 20 anos e mais de R$ 1,5 bilhão investidos em 245 projetos.
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
“Inovando em Defesa: A Experiência do Uniforme Inteligente” foi a palestra ministrada por Larissa de Freitas Querino, da ABDI, que versou sobre o desenvolvimento de uma plataforma de difusão de inovação tecnológica uniforme inteligente.
O objetivo do projeto foi contribuir para a capacitação produtiva e tecnológica da base industrial de defesa brasileira nos segmentos de produtos têxteis e confecções. A proposta foi a disponibilização de um lote piloto de uniforme tecnológico para o Exército Brasileiro que agregasse propriedades físico-químicas avançadas em um tecido de alto desempenho.
Larissa detalhou todas as fases do projeto, desde o lançamento de um concurso para apresentação de um protótipo, em 2018, passando pela parceria com a Divisão de Abastecimento do Exército Brasileiro, em 2020, até a parceria com a Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL), em 2022.
Ela afirmou que o contrato foi feito com a empresa ASTRO ABC, que venceu o processo licitatório para aquisição de 1350 unidades do lote piloto do uniforme inteligente, que foram testados em diferentes localidades do país. Após fase de readequações, o uniforme ganhou funcionalidades e nova entrega para militares do Exército.
Estudo Prospectivo do Setor de Defesa no Brasil
Em sua apresentação, o professor Fabian Diniz, gerente de serviços tecnológicos no SENAI CIMATEC, explicou que a instituição atua em quatro pilares. O primeiro: recrutamento e instalação foi o pilar apontado por ele para justificar a criação da instituição [SENAI CIMATEC] quando houve uma demanda da indústria, com a instalação da fábrica da Ford na Bahia, há 21 anos atrás.
O segundo pilar destacado por ele foi treinamento e formação, ou seja, os programas de qualificação para capacitar a indústria, com cursos de aperfeiçoamento, qualificação e técnicos, além de graduação e pós-graduação lato e strictu sensu. “Hoje, o SENAI CIMATEC oferece oito cursos de engenharia, um curso de arquitetura, três programas próprios de mestrado, dois programas de doutorado, mais de 40 pós-graduações, inclusive uma delas em Defesa e Segurança”, revelou. Os terceiro e quarto pilares citados foram os serviços técnicos especializados e pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O professor falou também sobre o Centro de Defesa, Segurança e Espaço. Este centro nasceu porque houve uma percepção do SENAI CIMATEC sobre a importância da base industrial de defesa e segurança e, por esta razão, este Centro foi criado para estabelecer um ponto focal da indústria de defesa e segurança no Brasil. O Centro funciona nas áreas de pesquisa e desenvolvimento; educação; serviços tecnológicos, como a certificação, testes e ensaios de produtos controlados; e pesquisa básica e aplicada.
Na sequência, abordou o laboratório de ensaios balísticos para produtos controlados pelo Exército (PCE), que está em fase de implantação no campus Salvador e, futuramente, no CIMATEC Park. A instituição já é um organismo de certificação de produtos (OCP), de PCE, e está se qualificando para atuar ainda com a certificação de produtos da construção civil e produtos ligados à saúde.
Diplomacia Corporativa: Mecanismos de Proteção
A última apresentação da programação ficou a cargo do líder técnico de Diplomacia Corporativa do SENAI CIMATEC, especialista técnico na área de Defesa, assessor técnico do COMDEFESA Bahia, o professor Milton Deiró.
Em sua apresentação ele contextualizou o mercado de defesa e disse que uma das virtudes deste mercado é que as empresas podem, em princípio, utilizar serviços e políticas públicas de relações internacionais dos Estados. Mas disse que existem vários desafios que precisam ser enfrentados, como a dinâmica do sistema internacional versus a burocracia do setor público; o descompasso entre desenvolvimento tecnológico, desdobramentos geopolíticos e a ação Estatal; a falta de compatibilidade absoluta entre objetivos estatais e objetivos corporativos; e a proibição do uso do Estado para interesses privados.
O professor Milton também falou sobre outros desafios que extrapolam as técnicas e metodologias tradicionais de administração de empresas como eventos Fat Tail. O termo em inglês, usado pelo mercado financeiro, refere-se a fatos ou eventos de baixíssima probabilidade, mas que potencialmente causariam um altíssimo impacto e, portanto, são deixados de fora das metodologias tradicionais de análise de risco corporativo. Ele citou como exemplo a pandemia da COVID-19, em contexto contemporâneo, e outros eventos que aconteceram a partir da década de 70, que trouxeram reflexos para a sociedade e a indústria.
Ele mostrou ainda o estudo de uma matriz Fat Tails aplicada à base industrial de defesa e segurança, feito em parceria com o setor privado, as Forças Armadas, a ABIMDE, e o Ministério da Defesa. Para este levantamento, foram realizados workshops para análise de cenários possíveis e situações não convencionais, que foram distribuídas em uma matriz de probabilidade e impacto para o setor público, ICTs e setor privado.
Por fim, o professor Milton falou sobre o conceito de diplomacia corporativa, que é a atuação transversalizada de três grandes atividades: relações internacionais, relações institucionais e relações governamentais. Esse tipo de diplomacia tem, entre outras vantagens, o uso de ferramental e metodologias transdisciplinares para o enfrentamento de desafios geopolíticos do mundo contemporâneo.
Encerramento
No encerramento, o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Tarso Nogueira, em nome da parceria SENAI CIMATEC – ABIMDE, agradeceu aos participantes que acompanharam o evento presencialmente e on-line, aos representantes das Forças Armadas e da Polícia Militar do Estado da Bahia. O professor expressou que ficou feliz com o resultado das palestras e que tem grande expectativa para as outras edições. “Esperamos estar juntos de novo em 2025, no próximo evento, que será muito maior e vai explorar outras temáticas desta área de defesa e segurança. Muito obrigado a todos”, finalizou.
Para visualizar a programação do dia acesse: https://www.youtube.com/watch?v=ymuzCoE9MUY