A instalação de centros de irradiação para conservar e aumentar a vida útil dos alimentos, projeto de que a Amazul participa, foi tema de debate online do dia 8 de abril que reuniu representantes do governo, produtores de frutas, fabricantes de equipamentos e especialistas em tecnologia nuclear.
O evento confirmou o consenso em torno dos benefícios dessa tecnologia que permite o acesso a mercados externos mais distantes com a garantia de segurança sanitária e fitossanitária, controle de pragas e doenças, desinfestação de grãos e vegetais frescos e esterilização de pallets e embalagens finais.
O coordenador-geral de negócios da Amazul, Nilo de Almeida, lembrou os desafios de tornar a irradiação de alimentos um negócio viável para o Brasil, terceiro maior produtor mundial de frutas. Entre esses desafios está o de atrair investidores e tranquilizar produtores e consumidores sobre a segurança da irradiação, que está prevista na legislação brasileira desde 1973.
“Essa tecnologia vem sendo aperfeiçoada há décadas”, observou Nilo de Almeida, que apresentou os tipos de irradiação usados no mundo (radiação gama, feixe de elétrons e raios-x) para essa finalidade. O projeto do qual a Amazul participa prevê apoio na negociação, projeto de engenharia, licenciamento e fiscalização da implantação dos centros de irradiação.
“A Amazul busca resolver a questão técnica, mostrando que a atividade nuclear é segura. A fiscalização da Comissão Nacional de Energia Nuclear é eficiente e a atividade regulatória está bem definida”, ponderou.
Produtores
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas) não tem dúvidas sobre os benefícios da irradiação de alimentos, entre eles o de melhorar o acesso ao mercado norte-americano e asiático e aumentar o tempo de prateleira – um fator crítico, considerando que um contêiner de frutas frescas demora 40 dias para chegar à China.
Jorge Souza, gerente técnico e de exportação da Abrafrutas, lembrou que o Brasil é protagonista na fruticultura, com produção anual de 44 milhões de toneladas anuais e faturamento de US$ 1 bilhão/ano. Com 2,5 milhões de hectares plantados, a atividade gera 5 milhões de empregos diretos. No entanto, o país ocupa a 24ª posição entre os exportadores mundiais, pois enfrenta as rígidas barreiras fitossanitárias do mercado internacional para conter a disseminação de pragas e doenças.
A tecnologia da irradiação é reconhecida inclusive pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como solução para combater desperdícios e a fome no mundo. Segundo Gustavo Chianca, representante-adjunto da FAO no Brasil, a irradiação pode reduzir as perdas de alimentos, calculadas em 220 milhões de toneladas anuais, e alimentar as populações que hoje passam fome (devido a conflitos regionais e êxodos motivados pelas mudanças climáticas). “Mas a irradiação não deve substituir boas práticas de higiene e fabricação de alimentos”, observou Chianca.
Luiz Roberto Barcelos, presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), destacou benefícios inclusive para o mercado interno: ao reduzir perdas, a irradiação aumenta a produtividade e os custos de produção caem. “Atualmente, boa parte da população não consome as 400 g diárias de frutas e hortaliças recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por causa do preço”, afirmou.
O evento discutiu ainda fontes de financiamento, licenciamento de instalações radiativas e apresentou equipamentos de irradiação ao redor do mundo.
A irradiação de alimentos é tema do grupo de trabalho GT-7 do Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, do qual a Amazul faz parte. O capitão de mar e guerra Alexandre Itiro Villela Assano descreveu as ações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), que coordena o Comitê, em prol da irradiação nuclear como política pública.
Especialistas
Também participaram do debate: Wilson Calvo, superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), e Luiz Eduardo Rangel, assessor da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) relatou a experiência de irradiação de mangas em Petrolina/PE. E o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP) descreveu o uso da irradiação para criação de insetos estéreis no combate à mosca-da-fruta.
O desafio de comunicar à sociedade os benefícios da tecnologia de irradiação foi outro tema do evento, do qual participaram representantes do GSI/PR, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ipen e Comissão Nacional de Fruticultura. Denise Levy, professora do Ipen/USP e secretária de comunicação da Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica (SBPR), lembrou que a aceitação pública depende de melhor informação e da experiência do consumidor.
“A percepção do consumidor é diferente da percepção da comunidade científica. Consumidor não lê artigo científico, ele se baseia na experiência. Já as pessoas melhor informadas têm opinião mais favorável à irradiação de alimentos”, comentou.
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