Agência Marinha de Notícias entrevistou o Chefe do Centro de Coordenação de Operações Cibernéticas, Contra-Almirante Marcelo do Nascimento Marcelino
Boa parte do mundo já sabe que, hoje, os conflitos entre nações são marcados não somente por batalhas em campo, mas também por ataques no espaço virtual. Por isso, o Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber), um Comando Operacional Conjunto permanentemente ativado e com capacidade interagências na estrutura do Exército Brasileiro, e composto por militares da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira, realiza de 14 a 18 de outubro a 6ª versão da maior simulação de defesa cibernética do Hemisfério Sul: o “Guardião Cibernético 6.0”.
O exercício acontece, ao mesmo tempo, na Escola Superior de Defesa, em Brasília (DF), e no Comando da 2ª Divisão de Exército, em São Paulo (SP), onde ocorrem atividades que simulam um ambiente realista de ataque, defesa e proteção virtual a estruturas críticas de energia, águas, finanças, nuclear e de telecomunicações.
São simulados gabinetes de crise com participação de profissionais da área jurídica, de comunicação social e tecnologia da informação, além de outros setores-chave para a economia e soberania dos países. Uma atividade interessante é: participantes são colocados em uma situação em que têm que defender infraestruturas críticas de ataques lançados por um red team (time vermelho) da organização do evento, contra um blue team (time azul), que precisa se defender.
Nesta segunda-feira, 14, durante a abertura do evento, a Agência Marinha de Notícias (AgMN) conversou com o Chefe do Centro de Coordenação de Operações Cibernéticas, Contra-Almirante Marcelo do Nascimento Marcelino, que falou sobre o evento, o que se espera dos participantes e como serão as simulações. Confira!
AgMN – Qual a expectativa do ComDCiber para este ano, em termos de participação de número de militares, governo, setor privado e meio acadêmico, além de membros de outros países?
Contra-Almirante Marcelino – Receberemos agências reguladoras e autarquias governamentais, organizações militares, empresas públicas e privadas, além de órgãos parceiros e instituições acadêmicas. Há 45 estrangeiros, entre participantes das seguintes nações amigas: Alemanha, Bolívia, Espanha, EUA, Paraguai, Portugal e Reino Unido, mais o Centro de Excelência de Defesa Cibernética Cooperativa da OTAN, além dos Adidos de Defesa acreditados no Brasil, que prestigiam o exercício com suas visitas.
AgMN – O exercício será semelhante ao que foi executado no ano passado? Haverá algo diferente ou peculiar nesse ano?
Contra-Almirante Marcelino – O EGC 6.0 traz novidades em relação às edições anteriores, como:
a) dispor de representantes de todos os setores de infraestruturas críticas: Águas, Energia (incluindo o Setor Nuclear), Transporte, Comunicações, Finanças, Biossegurança e Bioproteção, Defesa e Governo Digital;
b) executar uma simulação virtual, especialmente elaborada no âmbito do Sistema Militar de Defesa Cibernética, com a participação das três Forças Singulares;
c) contar com uma comunidade de cibersegurança, atuando em parceria com o Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber);
d) ter um gabinete de crise, coordenado pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; e
e) ativar a Rede Federal de Gestão de Incidentes Cibernéticos.
AgMN – O exercício seguirá simulando um ambiente de ataque, defesa e proteção às nossas estruturas críticas?
Contra-Almirante Marcelino – O EGC consiste de um treinamento de ações de proteção cibernética, por meio da cooperação entre as Forças Armadas, órgãos parceiros e representantes das Infraestruturas Críticas, ao adotar técnicas virtuais de simulação e práticas de gestão de incidentes.
AgMN – Como esse exercício prepara o País para uma possível crise energética, hídrica, financeira, nuclear e/ou de telecomunicações?
Contra-Almirante Marcelino – O EGC se encontra previsto no Plano Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas, aprovado pelo Decreto no. 11.200, de 15 de setembro de 2022, que atribuiu ao Ministério da Defesa, por meio do Comando de Defesa Cibernética, fomentar a capacitação e a educação em Segurança de Infraestruturas Críticas, envolvendo os diversos setores na realização da atividade.
AgMN – Qual a importância do preparo da Marinha do Brasil em um caso de crises como o citado acima? Há estruturas críticas exclusivamente gerenciadas pela MB?
Contra-Almirante Marcelino – A Marinha do Brasil (MB) está envolvida diretamente no EGC, ao dispor de uma Equipe de Prevenção, Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos própria, colaborando com a atuação do Sistema Militar de Defesa Cibernética. A MB possui infraestruturas críticas específicas no Setor Nuclear. A Força Naval tem interesse também nos demais setores, em razão de suas atribuições subsidiárias, previstas no ordenamento jurídico, como, por exemplo, o Transporte Aquaviário.
AgMN – Qual o papel da Marinha do Brasil no ComDCiber?
Contra-Almirante Marcelino – O papel da MB no Comando de Defesa Cibernética, órgão central do Sistema Militar de Defesa Cibernética, é contribuir com uma força de trabalho militar em um Comando Operacional Conjunto, permanentemente ativado e com capacidade interagências, na estrutura do Exército Brasileiro.
As informações são da Agência Marinha de Notícias