Evento internacional reuniu delegações no Rio de Janeiro
A aproximação contínua entre as Marinhas do continente americano tem incentivado operações combinadas e parcerias que proporcionam o esforço conjunto na busca por mares seguros e soberanos. É o caso das Operações “Solidarex”, “Unitas” e “Formosa”. Foi neste contexto que a XXXI Conferência Naval Interamericana (CNI) reuniu, entre os dias 23 e 27 de setembro, delegações de 19 países no Rio de Janeiro (RJ).
O evento, realizado pela Marinha do Brasil, recebeu representantes das Marinhas da Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Holanda, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai, além de membros da Junta Interamericana de Defesa e da Rede Naval Interamericana de Telecomunicações. A participação, como observadora, da Marinha Real Holandesa foi submetida à votação e aprovada pela maioria dos membros.
Com o objetivo de estimular o contato permanente entre as marinhas participantes, a CNI foi criada em 1959 como um foro capaz de proporcionar o entendimento mútuo dos problemas marítimos que afetam o continente. Para o Chefe do Estado-Maior Geral da Armada Argentina, Vice-Almirante Carlos María Allievi, a CNI “é uma conferência exitosa, principalmente por permitir que (…) estejam todos reunidos no mesmo lugar para poder discutir, analisar e conversar sobre os problemas que afetam todas as Marinhas do continente americano. É sempre produtivo nos encontrarmos”. Ao falar sobre as principais pautas trazidas para a edição de 2024 da CNI, o Vice-Almirante Allievi ressaltou que, pontualmente, a maior preocupação hoje é ter uma excelente relação com todos os países da região. “Para nós, é muito importante ter um amplo conhecimento dos problemas que abrangem todas as áreas do interesse marítimo, que, hoje em dia, são muito importantes – porque, como vemos em todos os países da região, o comércio exterior da maioria de nós é realizado através das linhas marítimas de comunicação”, afirmou.
O Comandante em Chefe da Armada do Chile, Almirante Juan Andrés de La Maza Larraín, ressaltou a importância da existência de um foro em que os países possam criar parcerias que os levem a um futuro desenvolvimento e a se tornarem países mais prósperos – “e que nossa gente tenha uma melhor qualidade de vida”. Para ele, “um tema que tem sido comum é que, para todos, está custando cada vez mais conseguir obter os recursos para renovar as unidades de superfície”, explicou o Almirante de La Maza.
A Chefe de Operações Navais da Marinha dos Estados Unidos da América, Almirante Lisa Marie Franchetti, celebrou a oportunidade de voltar ao Brasil no ano em que são comemorados os 200 anos das relações diplomáticas entre as duas nações. “Esta é a minha primeira CNI, mas não é a minha primeira vez no Brasil. Tive a incrível oportunidade de estar no Rio de Janeiro em 2015, durante a Operação ‘Southern Seas’, com o Porta Aviões ‘George Washington’”, recorda a Almirante, que ainda esteve no país em outras duas oportunidades, por ocasião da Operação “Unitas”. “Estar aqui de novo, hoje, me faz lembrar a força da nossa parceria, dos nossos valores e compromissos compartilhados, e da nossa comum habilidade de enfrentar os desafios coletivos que as nossas Marinhas encaram”, finalizou a Almirante.
Parada após o Pôr do Sol
Na terça-feira (24), as delegações estrangeiras puderem acompanhar uma apresentação da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) a bordo do Navio Doca Multipropósito (NDM) “Bahia”. O evento, conhecido como “Parada Após o Pôr do Sol”, falou sobre a história, tradições e valores da Marinha do Brasil e foi composto por músicas, como “O Guarani” e “Cisne Branco”, além da projeção de imagens e locuções que destacaram, por exemplo, a proteção da Amazônia Azul, a atuação da MB e a cultura brasileira.
O espetáculo apresentado no NDM “Bahia” foi pensado especialmente para a Conferência, para reverenciar a solidariedade hemisférica proporcionada pela CNI. Durante a apresentação, por exemplo, a narração destacava que “pelo mar, nossas economias se desenvolvem, nossas comunicações fluem e nossa amizade é constantemente reforçada. (…) A busca pela liberdade motivou a formação de marinhas nacionais (…) forças que lutaram bravamente pela soberania de suas nações e hoje continuam defendendo suas bandeiras nos mares”.
Momento de destaque foi a apresentação do Coral formado por crianças do projeto “Música e Cidadania”, desenvolvido pelo Programa Forças no Esporte (PROFESP), que oferece, desde 2017, cursos de musicalização e prática instrumental para os jovens atendidos utilizando a experiência dos militares das Companhias de Bandas do CFN. O PROFESP é considerado o programa de desenvolvimento social mais eficaz do Ministério da Defesa, em parceria com outros ministérios, e atende, na Marinha do Brasil, cerca de dez mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Visita ao PROSUB
Na quinta-feira (26), as comitivas visitaram as instalações do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) no Complexo Naval de Itaguaí (RJ). Ao longo da visita puderam conhecer o Estaleiro de Construção, o Shiplift e os Submarinos “Riachuelo”, “Humaitá” e “Tonelero”, construídos no Brasil, reforçando a importância do Programa para a soberania nacional.
Para o Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, a visita às instalações navais na cidade fluminense apresentou os avanços de um dos principais Programas Estratégicos do Estado brasileiro. As delegações puderam testemunhar a complexidade do PROSUB, que envolve um abrangente processo de transferência de tecnologia e se divide em três segmentos: a infraestrutura industrial-naval; a obtenção de quatro Submarinos Convencionais da Classe “Riachuelo”; e o desenvolvimento e a obtenção do primeiro Submarino Nuclear Convencionalmente Armado (SNCA), objetivo principal do Programa.
De acordo com o Coordenador-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino Nuclear Convencionalmente Armado da Marinha do Brasil, Vice-Almirante Humberto Caldas da Silveira Junior, o trabalho da Coordenadoria-Geral resultou, ao longo dos últimos 15 anos, em importantes contribuições para a jurisprudência junto a órgãos como o Tribunal de Contas da União e a Advocacia-Geral da União. “Essa experiência administrativa se apoia em uma rede de cooperação com órgãos governamentais e parceiros da Base Industrial de Defesa (BID), tanto nacionais quanto internacionais. A parceria com o Estado Francês, por exemplo, foi decisiva para o sucesso do programa, possibilitando o avanço em direção à construção do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado Álvaro Alberto”, disse o Vice-Almirante.
Encerramento
Após as exposições de todas as Marinhas participantes, realizadas ao longo da semana, as delegações se reuniram na noite de quinta-feira (26) para o último período de trabalho, com a leitura das recomendações sugeridas e aprovadas pelo Plenário e incluídas na Ata final, assinada em português, inglês e espanhol, que deverão ser implementadas em conjunto nos próximos anos.
“Manifesto, com deferência e apreço, os agradecimentos ao ilustre Conselho de Delegados da Trigésima Primeira Conferência Naval Interamericana. As apresentações e análises propiciaram debates de inquestionável préstimo para complexos desafios relacionados à prontidão operacional das Forças Navais”, discursou o Comandante da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, que complementou ao dizer que os diálogos realizados durante o evento reafirmaram o compromisso das instituições com o fortalecimento da cooperação regional. “Auguro que o elevado espírito de discussão e colaboração, exposto de maneira reiterada, continue a orientar a singradura das Nações coirmãs que compõe as Américas, conduzindo os esforços rumo à paz, à segurança e ao progresso comum”, encerrou.
*Com a colaboração de Edwaldo Costa, Primeiro-Tenente (RM2-T) Thaís Cerqueira e Primeiro-Tenente (T) Klojda
As informações são da Agência Marinha de Notícias.