Desde a semana passada o Brasil conta com um novo módulo científico na Antártida para coletar dados ambientais ao longo de todo ano. Os pesquisadores brasileiros finalizaram a instalação do Criosfera 2, que registrará dados de clima e de concentração de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa. O equipamento totalmente automatizado, abastecido com energia solar e eólica, foi construído com tecnologia brasileira. O novo módulo está localizado no manto de gelo antártico a cerca de 2 mil quilômetros ao Sul da Estação Antártica Comandante Ferraz. A operação foi financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) por meio de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
“O módulo já está operacional e coletando dados meteorológicos e da concentração de CO2”, explicou o pesquisador Jefferson Simões, que lidera a maior expedição brasileira ao continente gelado.
No total, 12 pesquisadores ficarão por 40 dias acampados no interior da Antártida. A expedição se iniciou no início de dezembro (07/12). Os pesquisadores brasileiros estão divididos em três grupos e acampados em locais diferentes: na geleira da Ilha Pine, no módulo Criosfera 1 e no local onde será instalado o módulo Criosfera 2. São quase 700km de distância entre eles.
De acordo com Simões, o Criosfera 2 foi instalado em um sítio propício para a investigação das mudanças climáticas na Antártida e conexões do tempo meteorológico e clima no Sul do Brasil. “Liga-se a uma rede de dados ambientais entre a Amazônia e a Antártida, importante para investigar as origens e a intensificação de eventos extremos de precipitação, ondas de calor e frio e estiagens no atual cenário de mudanças climáticas”, descreve Simões.
O módulo está localizado sobre uma calota de gelo com aproximadamente 600 metros de espessura, ao sul do Mar de Weddell. O local tem vista para a montanha mais alta da Antártica: o maciço Vinson com 4.897 metros de altitude. O pesquisador relata que a temperatura no Criosfera 2 durante o inverno deve cair a 40 graus negativos. É a partir dessa região que as massas de ar frio provenientes do platô polar abastecem o mar de Weddell, no oceano Austral, no inverno e são responsáveis pela intensificação de eventos extremos e ondas de frio no Sul do Brasil.
Os dados meteorológicos e da variabilidade do clima na Antártica ajudam a ampliar a rede de dados ambientais no extremo sul do planeta. De acordo com Simões, são informações essenciais para melhorar os modelos de previsão meteorológica e estabelecer cenários de mudanças do clima, como as correntes atmosféricas antárticas interagem com as massas de ar de latitudes menores e afetam o cotidiano. Também serão utilizados para detectar sinais de mudanças na química atmosférica que estejam relacionadas à poluição na América do Sul, como poluentes industriais e provenientes de queimadas. Neste ano os dados serão armazenados nos computadores. A partir do próximo ano, os dados serão enviados por meio de sistema de satélites. Segundo Simões, a ideia é abrir o módulo para instalação de outros experimentos pela comunidade científica brasileira.
A instalação do novo laboratório foi concluída sob temperatura de 15 graus negativos por quatro pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De acordo com relato de Simões, desde que a operação se iniciou, no dia 07 de dezembro de 2022, os pesquisadores trabalharam sob temperaturas que variaram entre 18 e 7 graus negativos. “Só houve uma nevasca este ano, o que nos ajudou muito”, avalia o pesquisador.
O módulo foi transportado de Punta Arenas, no extremo sul do Chile, até o interior da Antártida em um avião cargueiro Ilyushin Il-76TD, modelo apto a pousar sobre o gelo. Da geleira Union, nas montanhas Ellsworth, um trator polar cruzou cerca de 180 km e até o local de instalação do módulo. Simões descreve que a principal dificuldade foi transportar o módulo e equipamentos em um trator polar ao longo de 100 km do manto de gelo, evitando fraturas no gelo, que são chamadas de campos de fendas. Foram mais de quatro toneladas de carga transportada.
“A instalação do Criosfera 2 é um dos significativos resultados alcançados pelo Programa Ciência Antártica do MCTI. Investimos para manter nossa infraestrutura tecnológica de ponta, permitindo uma pesquisa que avance na fronteira do conhecimento”, afirmou a coordenadora-geral de Oceano, Antártica e Geociências do MCTI, Karen Cope.
A instalação do Criosfera 2 envolve professores do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As atividades integram o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) e a 41ª Operação Antártica (Operantar), que é coordenada pela Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM). A operação logística, que envolve o transporte e a instalação do módulo Criosfera 2 na Antártica e a manutenção do módulo Criosfera 1, custou R$ 3,5 milhões. O valor é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por meio dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).
As informações são do MCTI
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