Principal representante da indústria brasileira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), preocupada com o futuro do País, elaborou um conjunto de estudos que contêm propostas para promover o crescimento da economia e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
Apesar das adversidades, para 2022, a CNI projeta um crescimento de 3,1% para o PIB brasileiro, afirma Glauco José Côrte, vice-presidente executivo da instituição e presidente do CONDEFESA, que também ressalta: “A CNI defende um plano de retomada da indústria brasileira focado na ampliação dos investimentos, da produção manufatureira e das exportações”. Confira entrevista concedida à Revista ABIMDE, em sua edição de dezembro de 2022:
INFORME ABIMDE: Qual é o papel da CNI?
Glauco José Côrte: A CNI é a principal representante da indústria brasileira, um setor que reúne cerca de 475 mil empresas no País. Além disso, coordena um sistema formado por 27 Federações de Indústria dos Estados e do Distrito Federal. Atualmente a indústria representa 22% do PIB. Na década de 1980, quando as políticas públicas estavam voltadas para o desenvolvimento nacional, a indústria contribuía com 48% do PIB. Esses dados dão a dimensão do trabalho necessário para defender os interesses do setor produtivo nacional e os esforços para termos um ambiente de negócios mais amigável para quem empreende e produz no País.
A CNI elaborou, com a participação de líderes empresariais, o Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, depois atualizado para 2018-2022 e, no momento, trabalha na versão para os próximos cinco anos, para a construção de uma indústria competitiva, inovadora, global e sustentável. Esse documento é uma agenda para que o País desenvolva novas competências e realize mudanças estruturais, considerando as mudanças no ambiente econômico mundial e nacional ocorridas nos últimos cinco anos.
Durante o debate eleitoral, a CNI entregou aos candidatos à Presidência da República um conjunto de 21 estudos, também elaborados a partir de sugestões de empresários e de representantes das Federações de Indústria estaduais e das associações nacionais setoriais da indústria. Os estudos contêm um conjunto de propostas capazes de promover o crescimento da economia e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Muitos dos problemas apontados pela CNI são antigos, como a insegurança jurídica e os elevados custos criados pelo nosso sistema tributário caótico.
A CNI também produz anualmente a Agenda Legislativa da Indústria, que é elaborada em parceria com as Federações de Indústrias e associações setoriais de âmbito nacional. O documento apresenta proposições em tramitação no Congresso Nacional prioritárias para o desenvolvimento do País.
IA: Como o senhor avalia a situação da Indústria Nacional no pós-pandemia?
Côrte: O Brasil enfrenta os inesperados problemas trazidos pela pandemia da Covid-19 e os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Além das graves consequências para a vida das pessoas, as duas crises humanitárias têm afetado duramente a economia e imposto grandes desafios para os governos e as sociedades em todo o mundo. A indústria brasileira foi bastante resiliente ao longo da pandemia.
Importante lembrar a contribuição que CNI, SESI (Serviço Social da Indústria), SENAI (Serviço Nacional da Indústria) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi) e outras entidades e empresas industriais deram ao País nos esforços de prevenção e combate à disseminação da Covid-19, no conserto de respiradores mecânicos, na doação de insumos e materiais hospitalares e no fomento à pesquisa por soluções que ajudassem governos e população na prevenção contra a doença.
Para 2022, a CNI projeta um crescimento de 3,1% para o PIB brasileiro. Os primeiros dados do terceiro trimestre de 2022 sugerem a continuidade de uma atividade econômica aquecida, embora em ritmo menor que o vigoroso crescimento do segundo trimestre. Mas o que precisamos de verdade é planejamento e estabilidade. Planejar ouvindo as forças vivas da sociedade brasileira e construir consensos em torno de políticas para o desenvolvimento social e econômico que sejam de estado e não só ocasionais de governo. Assim, acreditamos que o Brasil tem tudo para figurar entre as nações mais desenvolvidas do planeta, em um futuro não muito distante. A indústria brasileira está pronta para ajudar na construção de um novo tempo para o nosso País.
IA: Os investimentos em inovação na Indústria de Defesa e Segurança impactam todo o setor industrial, pois há um transbordo de tecnologia e geração de trabalhadores qualificados. O senhor poderia falar sobre essa dualidade?
Côrte: A indústria é a principal fonte de inovação e de progresso tecnológico, afetando positivamente as demais atividades econômicas. A possibilidade de aplicação dual das tecnologias desenvolvidas para fins militares em outras áreas, como máquinas e equipamentos, veículos e informática, representa uma grande oportunidade para a inserção do Brasil em mercados altamente competitivos. Com uma participação de 4,4% na economia nacional, a indústria de defesa e segurança emprega quase 3 milhões de trabalhadores e tem uma expressiva presença no comércio exterior.
Além disso, podemos destacar o fato de que, para cada 1.000 empregos criados no setor de Defesa, adicionam-se na economia brasileira outros 161 empregos no próprio setor de Defesa (emprego direto), 1.130 empregos provenientes da interdependência do setor de Defesa com outros setores da economia (emprego indireto) e 1.440 empregos advindos da circulação de renda das famílias (emprego induzido). O Brasil, diante das restrições fiscais, tem apresentado dificuldade de avançar no investimento em tecnologia e novos projetos. No entanto, espera¬-se que, por uma questão estratégica, logo que o país equalize a questão fiscal, o direcionamento de investimento para o setor se reestabeleça e, com isso, haverá um fortalecimento de setores com maior intensidade tecnológica, além dos benefícios do transbordo tecnológico, por meio da aplicação dual das tecnologias.
IA: Quais as perspectivas da CNI para 2023?
Côrte: A indústria espera que o próximo governo tenha êxito em acelerar o crescimento do País e avançar na transição para uma economia de baixo carbono. O Brasil tem vantagens comparativas importantes, sobretudo na área energética, já que a nossa matriz elétrica energética é uma das mais limpas do mundo. Mas é preciso que transformemos essa vantagem comparativa em vantagem competitiva. Nesse sentido, precisamos de uma política industrial que siga nos moldes do que as grandes economias do mundo já estão fazendo.
Um levantamento realizado pela CNI sobre os ambiciosos planos de desenvolvimento industrial de países como Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, China, Alemanha e demais países da União Europeia revela que, juntos, eles preveem investimentos de US$ 5 trilhões, nos próximos anos, em políticas de apoio às suas respectivas indústrias, com vistas a alcançar objetivos estratégicos, como a digitalização e a descarbonização da economia. A CNI defende um plano de retomada da indústria brasileira focado na ampliação dos investimentos, da produção manufatureira e das exportações, para viabilizar a maior inserção competitiva do País nas cadeias globais de valor e reverter o processo precoce de desindustrialização.
IA: Recentemente, houve uma aproximação estratégica entre CNI e ABIMDE com o objetivo de capacitar a Indústria de Defesa e Segurança, por meio do SESI-SENAI-IEL. Quais são as expectativas com relação a essa parceria?
Côrte: A ABIMDE tem um importante papel na promoção e valorização das empresas nacionais no País e no exterior. Isso a torna um relevante vetor de conhecimento sobre o setor. A entidade também possui ações que fomentam as exportações de produtos e serviços, visando impulsionar a economia do País e a geração de empregos altamente especializados.
A CNI e ABIMDE tem trabalhado em conjunto no processo de compreensão das demandas específicas da indústria de defesa e segurança, no sentido de apoiar o setor com soluções no campo da educação profissional técnica e tecnológica, tecnologia, inovação, saúde e segurança e na formação executiva. A partir da identificação dessas necessidades, a ideia é estabelecer um plano de parceria que traga resultado efetivo na competitividade das empresas associadas.
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