Apesar de não possuir grandes dimensões, o conjunto de ilhas rochosas isoladas no meio do oceano Atlântico, conhecido como São Pedro e São Paulo, situado a cerca de mil quilômetros da costa brasileira, atrai cada vez mais cientistas em busca de conhecer suas riquezas naturais. E o interesse não é de agora. O mais famoso visitante nas ilhas foi Charles Darwin em 1832, durante viagem ao redor do mundo que culminou com o desenvolvimento da sua famosa teoria da evolução.
O arquipélago tem uma área total emersa de aproximadamente 17 mil m², equivalente a mais ou menos dois campos de futebol. Embora pequenos, os rochedos têm formação rara e são cercados de rica biodiversidade, que proporciona condições únicas para a realização de pesquisas em diversos ramos da ciência.
No início deste mês, o Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira” da Marinha do Brasil (MB) levou 23 pesquisadores selecionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para o levantamento de dados de projetos científicos que buscam compreender melhor o que está ocorrendo no entorno das ilhas.
Durante um período de 15 dias, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Universidade de São Paulo (USP) estiveram a bordo do navio da Marinha, com atenção voltada para essa remota área da Amazônia Azul.
A diversidade de instituições, de diferentes regiões do País, comprova a importância e interesse por essa longínqua porção do território nacional. Entre as atividades desenvolvidas pelo navio e pelos pesquisadores nessa missão destacam-se: o estudo de poluentes orgânicos persistentes; o monitoramento da atividade sísmica e de emissões bioacústicas; o imageamento do assoalho oceânico (técnica que gera imagens mapeando a composição molecular de um determinado material); a caracterização de fungos presentes em sedimentos marinhos profundos do oceano Atlântico, com coleta de amostras a mais de 4 mil metros de profundidade; a avaliação dos fatores ecológicos e da pressão antrópicas atuando sobre as aves marinhas; o monitoramento da biodiversidade marinha em ilhas oceânicas brasileiras; e o monitoramento da distribuição e abundância de cetáceos (baleias e golfinhos) entre a costa do Nordeste do País e o Arquipélago São Pedro e São Paulo (ASPSP).
Seleção dos projetos
O Assistente Técnico da Coordenação-Geral de Oceano, Antártica e Geociências (CGOA) do MCTI Iran Cardoso Júnior explica que, no caso de expedições coordenadas pelo ministério, é realizada pelo órgão uma consulta aos pesquisadores que têm projetos já aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), para viabilizar a demanda de pesquisas embarcadas. O processo é feito em conjunto com a Marinha, que analisará a questão logística.
“Começamos a estudar com o pessoal do Grupamento de Navios Hidroceanográficos a exequibilidade do projeto, se é factível aquelas áreas pretendidas, se o navio tem equipamentos em condições de atender determinadas demandas”, destaca Cardoso.
Com o intuito de dar mais transparência ao processo, em agosto deste ano o MCTI lançou consulta pública para identificar as demandas da comunidade científica que deseja utilizar os navios de pesquisa. Os interessados têm 30 dias, a contar da data de publicação do edital, para apresentar projetos que necessitem do apoio dos navios.
Para o Comandante do “Vital de Oliveira”, o Capitão de Fragata Daniel Peixoto de Carvalho, “a operação de um meio militar com modernos equipamentos de pesquisa à disposição da comunidade científica produz uma sinergia fundamental para a exploração das riquezas naturais, sendo um excelente vetor na direção da prosperidade e soberania brasileira”.
O professor Arthur Ayres é um dos pesquisadores que esteve a bordo do navio “Vital de Oliveira” com destino ao arquipélago. Ele conduz a pesquisa “Caracterização e Biotecnologia de fungos presentes em sedimentos marinhos profundos no oceano Atlântico ao longo da costa brasileira”, coordenado pela UFMG com parceria da UFF.
Segundo o especialista, as pesquisas nesta área ajudam a entender de forma antecipada o que está acontecendo com a saúde do oceano e o que está impactando a fauna e a flora marinha. Ele explica que, além disso, é possível também realizar estudos que podem contribuir para o desenvolvimento da gestão dos recursos naturais, para a exploração biotecnológica (como a produção de fármacos), para o estudo geológico e sísmico (para a pesquisa de recursos minerais) e para a preservação de espécies com risco de extinção.
De acordo com a coordenadora do projeto “Sentinelas da Amazônia Azul”, professora da UFRN Renata de Sousa-Lima, que realiza pesquisas bioacústicas sobre cetáceos na costa brasileira, “as oportunidades de realizar pesquisas na região são escassas, pois é uma localização de difícil acesso e, portanto, com poucas informações conhecidas. O fato de ser uma área pouco explorada torna a participação na expedição ainda mais especial”. Já a vice-coordenadora do projeto, Manuela Bassoi, que estuda a distribuição desses animais entre a costa do Rio Grande do Norte e o ASPSP, relata que cada oportunidade que se tem de explorar essa região é única. “A parceria com a Marinha tem nos ajudado muito neste sentido”, conclui.
O arquipélago está em um ponto crítico para a navegação, pois as ilhas não são de fácil detecção a olho nu, principalmente em condições adversas de luz e de tempo, o que já provocou alguns naufrágios ao longo da história. A origem do nome das ilhas é justamente uma referência a um resgate lá realizado de marinheiros que haviam caído da embarcação portuguesa São Pedro e foram socorridos pela caravela lusitana São Paulo em 1511.
Posição estratégica O ASPSP é o ponto do Brasil mais próximo da África, a 1.820 quilômetros de Guiné Bissau. As ilhas também estão localizadas no hemisfério norte, próximas à linha do Equador, uma posição geográfica estratégica entre os hemisférios norte e sul e os continentes africano e sul-americano. Sua importância também se verifica no tocante ao aspecto econômico, pois pertence à rota de espécies migratórias de aves e de peixes de alto valor comercial, como o atum, por exemplo.
Além desses aspectos, a região também tem uma relevância para o Brasil no cenário geopolítico, uma vez que, com a ocupação permanente do arquipélago por meio da instalação de uma estação de pesquisa científica, o país pôde agregar à sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE) uma área de aproximadamente 450 mil km², equivalente ao tamanho dos estados do Paraná e São Paulo.
Para saber mais sobre o arquipélago ou sobre as pesquisas lá realizadas acesse o site da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM).
Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira”O “Vital de Oliveira” entrou em operação em 2015, fruto de um Acordo de Cooperação assinado entre a MB, o MCTI, a PETROBRAS, o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) e a VALE, para ampliar a infraestrutura para a pesquisa científica marinha.
O navio tem a missão de realizar levantamentos hidroceanográficos, coleta de dados ambientais e de apoiar pesquisas científicas em áreas marítimas de interesse, além de executar tarefas afetas aos auxílios à navegação, a fim de contribuir para o cumprimento das atividades relacionadas à Diretoria de Hidrografia e Navegação.
O “Vital de Oliveira” é considerado um dos mais modernos e completos navios de pesquisa do Hemisfério Sul. Ele tem a capacidade de atuar em diversas áreas da hidrografia (geofísica, oceanografia, acústica submarina e meteorologia) e, ainda, de apoiar uma enorme gama de projetos científicos de instituições de pesquisa e de universidades que possuem interesse nos recursos vivos e não vivos, água ou leito marinho da Amazônia Azul.
Atualmente, um dos empregos de maior destaque do navio é o imageamento do relevo marinho na Elevação do Rio Grande, área com a extensão estimada em cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados e que está sendo pleiteada junto à Comissão de Limite da Plataforma Continental da Organização das Nações Unidas.
Para o Primeiro-Sargento (Hidrógrafo) Eric de Melo Silva, que já serve no navio há sete anos, “é motivo de muito orgulho contribuir para a proteção da nossa Amazônia Azul, pois participamos ativamente do desenvolvimento de pesquisas científicas que nos ajudarão a preservar e a utilizar de forma sustentável esse enorme patrimônio nacional”.
As informações são da Agência Marinha de Notícias.
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