O tubarão de galápagos – espécie da família Carcharhinidae encontrada em diversas partes do mundo – também pode ser visto aqui no Brasil e em quantidades expressivas. Onde? No Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP), que fica localizado a 370 quilômetros de Fernando de Noronha (PE) e a 1.100 quilômetros de Natal (RN). Cardumes de dezenas desses tubarões aproximam-se das embarcações durante a pesca de atuns na região, segundo relatos de pescadores e pesquisadores à Marinha do Brasil (MB), responsável pela Estação Científica mantida naquela remota região.
Segundo os pescadores que atuam no ASPSP, é perceptível o aumento do número de tubarões, o que praticamente inviabiliza a pesca de atum, uma das espécies mais cobiçadas no local. O Capitão de Fragata Marco Antonio Carvalho de Souza, Coordenador Geral do Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (PROARQUIPELAGO), confirmou que os tubarões têm se concentrado nas proximidades das embarcações. Por conta disso, a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM) encomendou uma pesquisa à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para fazer o estudo e levantamento da estrutura populacional desses tubarões. A UFRPE é referência em estudos na área, com trabalhos e pesquisas sobre a presença de tubarões no litoral desenvolvidas incialmente pelo professor e pesquisador Fábio Hazin.
“Precisamos de informações para subsidiar o processo de decisão sobre as medidas de ordenamento a serem implementadas durante as atividades de mergulho desenvolvidas em apoio a estudos científicos e, também, para garantir a segurança dos pescadores”, diz o Capitão de Fragata Carvalho.
“A previsão é de que tenhamos os primeiros resultados parciais no segundo semestre de 2023. Até lá, por medida de segurança, as atividades de mergulho ficarão suspensas”, acrescentou.
“Percebemos um aumento expressivo na quantidade de tubarões, sobretudo, quando os pescadores atraem com luz o peixe-voador que é utilizado como isca para a captura de atuns, no início da noite. Os tubarões parecem já ter associado que as luzes atraem os peixes-voadores de modo que eles são atraídos antes dos voadores. Eles agregam-se de forma nunca antes registrada pelos pesquisadores que atuam no ASPSP, desde 1998, ano de início do PROARQUIPELAGO”, afirmou o coordenador da pesquisa pela UPRPE, o engenheiro de pesca Paulo Oliveira.
Pesquisa científica
Para iniciar a pesquisa de campo, serão investidos cerca de R$ 100 mil, disponibilizados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Nessa fase, serão implantadas marcações que permitem a identificação e acompanhamento de alguns indivíduos, além da captação contínua de imagens por câmeras subaquáticas.
“A pesquisa vai nos responder como é a estrutura populacional das espécies de tubarão, estimando o tamanho (comprimento), a quantidade de machos e fêmeas, se são juvenis ou adultos e como estão associados ao ASPSP”, explicou a Professora Doutora Danielle Viana, pesquisadora da UFRPE.
Essa pesquisa inclui o monitoramento dos tubarões pelo Baited Remote Underwater Vídeo (BRUV), que permite o estudo do comportamento deles, e também pela implantação de chips nesses animais. “Alguns serão capturados com espinhel, sempre com anzóis circulares, pois, desta forma, diminuímos muito a possibilidade de óbito dos tubarões no momento da sua captura. Uma vez capturados, os tubarões serão embarcados e, no menor tempo possível, serão marcados, utilizando marcas internas e externas”, detalhou o pesquisador Paulo Oliveira.
Relatórios da UFPRE apontam que, historicamente, os tubarões já foram considerados um importante grupo capturado no entorno do ASPSP e, ao longo do tempo, teriam sofrido forte redução de abundância, fruto provavelmente do intenso esforço de pesca realizada no passado. “Diante desse quadro, sob a coordenação da SECIRM, foram implementadas medidas de ordenamento da atividade pesqueira no ASPSP a partir de 2012 que, muito provavelmente contribuíram com a tendência hoje observada de recuperação rápida do estoque de tubarões” afirma o Capitão de Fragata Carvalho.
Arquipélago de São Pedro e São Paulo
O Arquipélago de São Pedro e São Paulo é o único conjunto de ilhas oceânicas brasileiras acima da linha do Equador, sendo composto por pequenas ilhas rochosas formadas a partir da evolução geológica associada à falha tectônica de São Paulo.
Trata-se de um afloramento do manto oceânico que se eleva em torno de 4.000 metros, apresentando uma área total emersa de 17.000 metros quadrados. Além disso, o ASPSP é o menor e mais distante grupo de ilhas oceânicas entre os quatro conjuntos insulares oceânicos do Brasil, considerado um importante sítio de reprodução e alimentação para diversas espécies pelágicas (seres vivos que não dependem dos fundos marinhos) e migratórias no Atlântico Central Equatorial.
No arquipélago, são feitas pesquisas da presença de Tubarão-Baleia, por exemplo, que são marcados e monitorados por satélites. As sinalizações permitem acompanhar os trajetos que o animal percorre, armazenando dados de profundidade, temperatura e localização geográfica. Os dados são usados nos estudos de um mapeamento global dos movimentos de tubarões oceânicos.
Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo
O PROARQUIPELAGO – aprovado em 11 de junho de 1996 pelo Comandante da Marinha, Coordenador da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) – conduz um programa contínuo e sistemático de pesquisas científicas na região, nas áreas de geologia e geofísica, biologia, recursos pesqueiros, oceanografia, meteorologia e sismografia.
Seu principal objetivo é garantir a habitabilidade permanente da remota região do ASPSP, o que propicia ao Brasil o estabelecimento de uma Zona Econômica Exclusiva de 450.000 quilômetros quadrados ao seu redor. Como a região incorpora elevado potencial para a realização de pesquisas nos mais variados ramos da ciência, a habitação contínua é facultada a pesquisadores vinculados a projetos científicos previamente selecionados.
As informações são da Agência Marinha de Notícias.
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